Entrevista com o professor Eduardo Murakami
“Hoje, da mesma forma que não se admite uma educação que não seja antirracista, não há espaço para uma educação que não dialogue com as questões ambientais”, destaca o responsável pelo Núcleo de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, Eduardo Murakami
Eduardo Murakami é mestrando em Ensino e História da Ciência pela Universidade Federal do ABC (UFABC), Especialista em Ensino de Ciências e em Educação em Direitos Humanos, também pela UFABC, além de Bacharel e Licenciado em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual Paulista (UNESP/RC). Atua como professor de Ciências da Rede Municipal de Educação da cidade de São Paulo e é um dos responsáveis pelo Núcleo de Educação Ambiental da Secretaria Municipal de Educação (NEA/DC/COPED/SME).
O inpEV, em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, está oferecendo, até mês que vem, a formação “Educação Ambiental Crítica: responsabilidade compartilhada na gestão dos resíduos sólidos – conceitos e práticas pedagógicas”. Cerca de 500 professores da rede municipal participam do curso, em formato de Educação à Distância (EAD). Em entrevista ao Portal do Sistema Campo Limpo, Murakami destaca a importância dessas formações e da educação ambiental.
1) Como surgiu a parceria com o inpEV para a realização das formações?
Na época, eu trabalhava na Divisão Pedagógica de uma das 13 Diretorias Regionais da cidade de São Paulo e surgiu a possibilidade de uma parceria para abordar a questão dos resíduos sólidos junto aos professores da Rede Municipal de Educação. Como estava num órgão regional, passei essa informação aos responsáveis da Secretaria Municipal de Educação que deram sequência aos trâmites de formalização da parceria.
2) Qual é a importância dessas formações que estão sendo oferecidas aos professores da rede municipal de São Paulo?
Uma cidade como São Paulo tem inúmeras demandas quando tratamos das questões ambientais. Com toda certeza, a questão do descarte de resíduos é uma questão premente. Não há como organizar uma capacitação sobre Educação Ambiental se não ocorrer uma reflexão sobre resíduos sólidos. Nesta perspectiva, a formação continuada de professores é a garantia de que a temática será abordada nas unidades escolares. E, em consequência, os estudantes passarão por um processo de reflexão e ressignificação do resíduo, podendo, assim, adotar hábitos mais sustentáveis.
3) Por que ter educação ambiental no currículo escolar?
Para responder a esta questão precisamos entender qual concepção de Educação Ambiental é proposta. A Rede Municipal de Educação defende que as escolas trabalhem na perspectiva da Educação Ambiental Crítica. Com isso, pretende-se a análise da cidade e seus distintos territórios, refletindo-se sempre na perspectiva da complexidade, considerando-se todas as dimensões possíveis para se analisar um determinado fenômeno. Assim é importante se fazer uma reflexão não só da questão ambiental, mas da intersecção entre o ambiente e as questões políticas, econômicas e sociais.
Portanto, ter Educação Ambiental no currículo escolar é, em primeira instância, garantir a obrigatoriedade da discussão dos temas que envolvem o ambiente, mas, acima de tudo, é garantir o acesso a uma educação de fato qualificada e contextualizada. Afinal, hoje, da mesma forma que não se admite uma educação que não seja antirracista, não há espaço para uma educação que não dialogue com as questões ambientais.
4) Como você avalia as formações até aqui?
As formações têm sido de extrema importância para a qualificação dos professores e para que a temática continue sendo discutida dentro da rede. Quando a gente fala em resíduos sólidos e em seu descarte, há uma simplificação da temática e, essas formações têm auxiliado na ressignificação do tema, permitindo a percepção de que o resíduo é só o fim de um processo, o que indica a necessidade de conscientização sobre o consumo e, assim, a consequente redução de materiais descartados.
Para além do exposto, a qualidade das formações é indiscutível. Com professores e professoras muito qualificados, as abordagens múltiplas apresentadas possibilitam além da reflexão e construção do conhecimento, o aumento do repertório didático dos professores cursistas.
5) Tem perspectiva de haver continuidade das formações nos próximos anos?
A ideia é que a parceria seja mantida. Afinal, a Rede Municipal de Educação sempre se renova e as boas formações sempre serão bem-vindas.